Retrato MusicalSalão bem encerado
Mesas nomeadas
Perfumes Lancaster, Hombre no ar.
Moças alegres a esperar
Cavalheiro dizer: “vamos dançar”?
Iguais passos ninguém tinha
Aos de João Boiadeiro a deslizar
A dizer: “vamos meu filho...”.
Como forma de estimular,
De forma elegante
Dr.Gentil e Arminda se deixam olhar.
E numa festa de São João
Mário Gominho não podia faltar
Uma quadrilha animada
Corretamente marcada
Só ele para orientar.
Se fosse carnaval
Jarbas dava show a pular
Ninguém fazia igual a ele
Variedades de passos a mostrar.
Só Rosinha Jardim com sua alegria
Podia empatar.
Se fosse baile de formatura
A OARA não podia faltar
Valdemar e Esterzinha a rodopiar
Com braço bem estendido a dizer:
“Vamos primo, vamos dançar”
Zé Vicente e Amerininha
Igual alegria a contagiar
Trocava os pares com
Alexandre e Edileuza
No salão do Grêmio a dançar
Professoras orgulhosas
Em seus vestidos de gala a valsar
Laquê no cabelo rinsado.
Retrato muito bem tirado
Formando chic de paletó
Sertanejo com gravata apertando
Orgulho no rosto mostrando
De família a comemorar.
Pra melhor ficar
O tira gosto não podia faltar
Galinha bem assada
Animava a noite
Pra nem tão cedo parar.
Passava no salão
Durval, Zé Galego, Afonsinho,
Vilasinho, Luciano, Helvesinho
Cláudio, Ferrazinho.
Com seus pares a dançar.
De tão cheio o salão
Qualquer um podia esbarrar,
Sérgio, Eliseu. Adjar, Valtinho
Zé Nozinho, Fernando(s)
Chico(s) Tadeu(s)
Aloísio, Beto, faziam a noite brilhar.
Vindo até nós, sem nos deixar parar.
Mistura de Fleur de Rocalle, Extra Fine,
Saigon, Vertige, Toque de Amor, Topaze.
Cerveja, Whisky, Rum Bacardi.
Música romântica, jovem guarda jazz ou forró.
Deixávamos mais juntos
Arriscando alguém censurar
Tão próximo assim outra hora
Não podíamos ficar.
Sanfona de Agostinho
Seu canto a nordestinar
Fim de festa e Benicinho
Com as Pastorinhas
A nos agradar.
Os Anônimos e Acioly
Acordes e voz
Falando de amor
Sentimentos tão bonitos
Que o Grêmio 3 Julho
Na nossa vida marcou.
Como muita gente, também tive perdas marcantes.
Asas cor de rosaAlta
rubra
alegre
Da paz.
Vitalidade,
Delicadeza demais.
Amor pulsante
Carinho renovado
Sorria ao amor
E dizia: ”meu Álvaro”.
A ele fazia pedido
Com a meiguice feminina
Na lista uma preferência,
A doce cajuína.
Em tardes quentes banhava Lila
As asas cor de rosa a proteger
Ao avistar seu amor
Feliz a ele ia.
Como se fosse à primeira vez, ria.
Quem dera aquelas nuvens
Tivessem molhado a terra
Esfriando seu pulsar,
Evitando o “fio invisível”.
Do fatal “malabarizar”.
Os passos solitários da notícia
Levou a verdade
A caatinga
Desolando o vaqueiro
Calando o som dos chocalhos.
Entristecendo o galo
No terreiro do Curral Velho.
As asas cor de rosas
Tinham partido
solitariamente
Deixando Álvaro.
Em homenagem a Raimunda Menezes (esposa de tio Álvaro Ernesto)
Ao meu Pai: Pedro Ernesto Gomes de Sá

P elos caminhos da caatinga
E nfrentava os desafios do vaqueiro
D e perneira e gibão
R ogava Deus no mato o gado encontrar.
O chocalho era a identidade, no curral ia laçar.
E sperava a chuva vir, para esconder as sementes com o pé.
R ezava para o santo, dá colheita em cada cova de fé.
N o papel com traços marcava a venda do criatório
E sperava em frente ao rádio
S eguia o repertório
T er músicas de Gonzaga e dos bons sanfoneiros
O uvia o “Repórter Esso” e até rádio do estrangeiro
G ostava de presentear os netinhos
O ferecendo uma “criação” novinha
M esmo não tocando instrumento
E nsaiava um som na lata com uma faquinha
S abia medir palavras, era observador
D eixou exemplos de herança
E sperava nunca passar por “uma dor”
S abia relembrar gentilezas
A ssinalava no peito onde guardou.
Doce lembrar

Álbum de foto, ”O SAGRADA FAMÍLIA”
Eram símbolos de você.
Sentimentos embalados
Por Ângela, Martha Mendonça.
Refeições orquestradas por Tabajara, Lafayette...
Ouvindo Perfídia ou Aquelles ojos verdes
Quem pode esquecer?
Sonhos de amor...
Perfume da Avon
Mapas, provas,
Era inteira na profissão.
Bolos, cremes, doces tortas.
Deliciosa como paixão.
Clara em neve
Busca de união...
Tentativa de transformar
O amargo em bom paladar
Com sua essência de dedicação.
Vinha à calçada com sua cadeira de vime
Rever estrelas, conversar...
Mas longe do cheiro dos tamarindos
Da sua rua de outrora
A fumaça de seu cigarro
Interroga “a ação esgrime”
O que batia naquele peito àquela hora?
Nos olhos de suas crianças
Onde seus sonhos moram agora
Sobravam cores, risos, bolas, sanduíches...
Voltava sempre ao álbum
A vida ali persiste.
Vestida de formatura
O casal sorrindo vê-se
Neném e Águas Finas
Versos de uma canção triste
Diferenças entre signos
Que em todo mundo existe.
Esmalte cintilante suas unhas revestem
Ouvindo Maysa
Faz touca, vira touca, o cabelo não esquece.
Disfarçando algum desencanto
Que a vida às vezes oferece.
Se possível fosse
Luz néon colocar
Palavras iguais a ela iam brilhar:
Bondade, profissionalismo,
Suavidade, gentileza.
Amizade, cordialidade,
Adoração a guloseimas.
Queria medir sua partida?
Uma saudade veio ocupar o lugar,
Das estrelas do firmamento
Que solidão ao olhar!
Cadeiras vazias sem seu conversar
Num minuto estava tão longe
Um frio veio avisar.
Pôs-nos nessa “montanha” que separa os que se vão
E o eco só responde nossa pergunta em vão:
Por que tem que levar quem vive em nosso coração?
Fecha-se o álbum
Perfumes não aromatizam mais
As doces sobremesas tão doces e inesquecíveis, como ela.
Presente em mapas, rios e cordilheiras,
Vive a inesquecível
“Cinderela”.
À querida e inesquecível: Marluce Gominho Ferraz de Sá