sábado, 8 de março de 2008

Shopping sertanejo,Paisagem rural,Brincadeira de "criança e meia"


Shopping Center sertanejo
.
(Floresta do passado)

Se era uma batata inglesa que faltava
Em Zé Tito ia achar.
Um bolo de laranja, chocolate torrone
Zé Goiana era o lugar.
Presentes, esmaltes, brilhantina
E muitas miudezas
Em Jaci encontraria com certeza.
Se for uma meada,
Em Seu Siato ia ter.
Se fosse xampu, sabonete, creme dental
Em Zezé tinha uma variedade.
Se fosse biscoito sortido, manteiga, açúcar.
Zé Vicente dava um show ao embrulhar.
Se alguma dor ou febre atormentasse
A Farmácia de Seu Arlindo ia nos acalmar.
Se algum calçado quisesse em Deusdedith
E em Odilon, por certo ia encontrar.
Se na casa faltasse
Algum moderno eletrodoméstico
Podia ir a João da Mata Modesto.

Se bem num vestido novo
Uma mulher desejasse aparecer
Podia encomendar
Pra Lourdes Xavier fazer.
Se quisesse um compacto, um LP, um bolero
Podia comprar em Aldo Cornélio.
Se a falta fosse de terços, mensagens de fé, cartão de Natal
Podia comprar na Livraria Paroquial.
Se na hora de vestir buscasse uma roupa impecavelmente arrumada
Cota ou Maria por certo teria deixado bem engomada.
Se quisesse uma roupa nova
Um corte de tecido bom,
Pra dez ser a nota
Podia ir a Tonho Jota.
Se faltasse uma estante
Ou infelizmente um caixão.
Era só ir a Valdomiro ou a Pedão.
E se fosse viajar, pra no caminho não empancar
Era só ir ao posto Pedro Rosa
Ou ser abastecido por Napoleão.
Dia de festa, nas madrugadas
Pra bebida não atrapalhar
Era só tomar os caldos de Maria Gorda
pra poder continuar...
Se uma cocada
Fosse um bom agrado
E razão pra tomar água
Era de Pitú e de Cianinha
As que não faltavam.
E se quisesse por fim
Registrar uma ocasião,
Um casamento, um batizado
Um simples 3x4, ninguém melhor era,
Que Seu Rafael e Barto.
Se algum menino
Fosse hora de batizar
Podia ir aprontando a festinha
Camisa de pagão pra escolher
Tinha em Sinhasinha.
Se o consumo de banana
Fosse na semana, além da média
Não precisava fazer drama
Era só ir comprar em Domésia.



Paisagem rural

O sol amanhece clareando os pássaros
Cercas, espinhos, bichos.
Pedras, ninhos, gente,
Chocalhos perdidos no mato.
Poços, cacimbas, gado, terreiro,
O cavalo, a cela, o vaqueiro,
Veredas, enxada, bornal,
Espingarda, aió.
Corda, gibão, perneiras, alazão. Bode, cachorro, touro.
Facão e machado.
Vacas e pilão.
Moinho, chaleira, alpendre,
Tamboretes, Curral.

Queijos e Ilha Grande
Açude e Boa Ilha
Latadas e Curral Velho
Bodega e Caldeirão.
Cavalo selado,
Os Quinca Pedro montados e Urubu.
Rede balançando,
Bode assado cheirando e Alto Monte.
Frutas e Algodões
Escola e Santa Paula
Café forte, pássaros verdinhos voando e Papagaio.

Mãe Lindaura, parteira.
Tonho Abel medindo a chuva
Carros e Rancharia
Leite, poesias e Boa Sorte.
Mucunã, Voltinha e Tapuio.
Mari, Quixabinha, Boa Esperança.
Baraúnas e Pocinhos.
Jatobá e Quixabeira
Riacho e Bom Conselho
Rancho dos Homens e Curimatá

Juazeiro e Cachoeiras
Boqueirão e Serrotinho.
Batatas e Santa Terezinha.

Banhos nas águas do Velho Chico e Grande Rio.
Ônibus na central e Varjota
Missas, novenas e Airi.
Poço Novo, Navio, Siri.
Curral Novo e Bom Lugar.
Paisagens, fazendas,
Umas que só ouvi falar,
Lugarejos, vila
Que na infância me viu por lá.



Brincadeira de “criança e meia”.

Ele me lembra o meu sapato e meia
Vestido de cintura
Risos e brincadeiras.
O outro lembra cartas, fotos,
Junho e Dezembro,
Nosso coração de estudante.
De outro me vem lembranças doces
O afago da mão
A dança, o olhar que não se esquece,
O circo, a praça, o cinema.
Um me lembra a Pereira Maciel.
O outro me chegava pelo correio
Onde quer que eu estivesse.
Um, depois, só mais tarde, aparece.
Mas de um deles
Um beijo a sete degraus ganhei,
Nem ele sabe que foi nada igual.

Brincadeira e Capital
Estudante e dispersão
Lembranças e amizade
Pereira Maciel e sublimação
Correio e paixão
Aproximação e gratidão
Beijo e distância
Razão do meu NÃO.

Capital e embalo
Dispersão e engasgo
Amizade? E namoro?
Sublimação e distância
Paixão e esquecimento
Gratidão e silêncio
Distância e solidão.
A culpa foi da geografia
Que até hoje maltrata.
Do seu álcool em fim de festa
De Roberto Carlos

Da timidez.
Não acreditei no que li
Faltou um novo beijo talvez,
Um novo embalo
Uma visita
Uma nova carta.

Aos amigos:
Edilberto Ferraz, Aloísio Ferraz, Aldo Menezes, Tadeu de Sinhá, Chico Goiana, Eduardo Henrique, Edmir de Almeida Ferraz.

2 comentários:

Anônimo disse...

AMEI O SHOPPING CENTER SERTANEJO. QUANDO AINDA BEM PEQUENA OUVIA SEMPRE O POVO DIZER ESTAS MESMAS FRASES, SE QUERÍAMOS UMA PRESENTE ERA NESTES DESTINTOS LUGARES QUE CONSEGUIAMOS COMPRAR.

UM BEIJO, TIA, VC REALMENTE É UM SHOW.

CANDICE

Dôrinha disse...

Que legal depois de tanto tempo ver descrito esse shopping do qual eu também participei,era desse jeito. Bom demais recordar... Parabéns! Seu talento é inegável.

Quem sou eu

Recife, Pernambuco, Brazil